Ítalo Reis Gonçalves
“No Brasil redemocratizado, o Poder Judiciário (especialmente o Supremo Tribunal Federal), desde o final do século XX, imbuiu-se de papel de destaque na concretização e maturação do projeto democrático previsto na Constituição Federal de 1988 e agiu como “construtor da ordem”. Contudo, na prática, juízes e tribunais constantemente utilizaram-se do sistema instaurado pelo movimento neoconstitucionalista para legitimarem as suas pretensões individuais e agendas políticas próprias através do recurso à máquina burocrática, visando não obrigatoriamente à proteção da integridade constitucional; mas sim à manutenção do status quo e preservação hegemônica das elites econômicas, jurídicas e políticas. A tragédia de Ésquilo Prometeu acorrentado compartilha diversas similaridades
com a judicialização da política, interferência do Poder Judiciário em controvérsias morais e políticas, no Brasil redemocratizado, e o destino de seus personagens pode auxiliar na adequada compreensão sobre o fenômeno analisado, esclarecendo os perigos advindos de juízes e tribunais soberanos e evidenciando as possibilidades de emancipação democrática perante a realidade juristocrática nacional. A obra objetiva analisar alguns dos principais aspectos da judicialização da política, apresentar elucidações sobre como o fenômeno interfere na dinâmica política brasileira e finalmente oferecer possíveis alternativas para a reestruturação da noção de democracia perante o contexto sócio-político nacional que não raras vezes pende para uma verdadeira juristocracia em momentos de crise. Só assim será possível responder à pergunta central da pesquisa: há espaço para a judicialização da megapolítica no Brasil redemocratizado?”