Aline Amaro da Silva, Elis Machado, Erico Hammes, Flávio Schmitt, Isidoro Mazzarolo, Iuri Andréas Reblin, Rafael Martins Fernandes, Thiago Schellin de Mattos, Tiago de Fraga Gomes (Orgs.)
A Modernidade, especialmente a partir do surgimento das democracias, promoveu uma autonomia do Estado e da esfera pública; as Ciências Naturais e Humanas em geral elaboraram seus próprios métodos de pesquisa e conhecimento, possibilitando o desenvolvimento humano e a tecnologia; sem resolver os problemas da pobreza, da desigualdade, da justiça social, do acesso ao desenvolvimento tecnológico e nem sequer conseguir a universalização dos regimes democráticos, a Modernidade criou, no entanto, uma consciência hegemônica em favor da igualdade essencial dos seres humanos expressa na Declaração Universal dos Direitos Humanos, base comum para as relações interpessoais, interétnicas e internacionais. A solução de duas guerras mundiais, o enfrentamento da corrida nuclear e a queda de alguns dos regimes e governos ditatoriais em vários continentes, incluída a América Latina, indicavam a vitória do princípio de convivência pacífica e da valorização de qualquer ser humano e da natureza. No entanto, em tempos recentes, em diferentes lugares do mundo, estados modernos aparecem sob influência de poderes políticos motivados religiosamente ou recorrendo a imaginários religiosos para se justificarem. Candidatas e candidatos não apenas recorrem a linguagens, mas usam simbolismos e títulos religiosos como credenciais para seus programas eleitorais. Argumentos para justificar a discriminação e a desigualdade voltaram à cena e questionam o que se supunha serem conquistas inabaláveis da Modernidade. As instituições mais sólidas da convivência em todos os níveis e âmbitos, desde a escola à Universidade, passando pelas igrejas e religiões, desde as ciências à justiça passando pelos poderes constituídos, viraram alvo de críticas e revisões. Também o Brasil e a sociedade brasileira com suas instituições fazem parte desse contexto. Poderosas redes paralelas, servindo-se de canais comunicativos sejam eles corporativos, individuais ou coletivos, com destaque para as mídias sociais, assumiram o papel legislativo, ético, religioso, executivo e judiciário da sociedade. Como as Ciências da Religião e a Teologia são influenciadas por essa realidade? Como podem interagir com essa realidade? Como podem situar seu próprio papel e com quem podem compartilhar suas descobertas? Influenciam essa realidade? Como as Ciências Políticas veem essa vinculação? Seria a religião uma dimensão negligenciada da Modernidade, uma vez que em grandes regiões do mundo o Estado se tornou autônomo frente à religião?