Nuno Pereira Castanheira, Jair Tauchen, Agemir Bavaresco, Draiton Gonzaga de Souza (Organizadores)
Quando se fala de crise ecológica, fala-se não só do risco de colapso dos ecossistemas e dos seus subsistemas de sustentação, mas também de uma crise que atinge as nossas formas de habitar o mundo, de pensar a nossa condição terrestre e a própria Terra. Trata-se de uma crise ontológico-política, muito mais do que uma mera crise ambiental, uma situação de catástrofe iminente que se tornou possível porque o poder e as consequências da atividade humana transcenderam as fronteiras das comunidades humanas e passaram também a transformar os processos biogeoquímicos do planeta, com impactos irreversíveis sobre a sua biota. Com o auxílio da ciência e da tecnologia e impelidos por um modo de produção – o capitalismo e seus derivados éticos, políticos e até religiosos – constitutivamente insensível a qualquer tipo de limite, os seres humanos começaram a “agir na natureza” – para utilizar a expressão de Hannah Arendt em A Condição Humana –, ação cuja irreversibilidade e imprevisibilidade assumiram uma dimensão geológica.