Leno Francisco Danner, Fernando Danner, Agemir Bavaresco (Organizadores)
As religiões institucionalizadas e universalistas apresentam (a) uma forte centralização do processo de constituição, legitimação e aplicação do credo aos crentes e aos não crentes (o que também significa: uma intervenção direta e pungente na esfera público-política de modo amplo e incisivo), assumindo um caráter autorreferencial e em grande medida autossuficiente e autossubsistente em termos de vivificação do próprio credo ao longo do tempo, fechando-o ao diálogo com a vida cotidiana; (b) uma utilização bastante intensa de fundamentações essencialistas e naturalizadas, em muitos casos sem qualquer moderação normativa e sem qualquer sensibilidade político-moral, aplicando-as indistintamente às diferenças e, assim, buscando influir de modo direto na própria configuração da democracia universalista e pluralista constituída como Estado democrático de direito; e (c) uma perspectiva missionária e messiânica que objetiva concomitantemente a colonização desse mesmo Estado democrático de direito e a periferização das diferenças, do pluralismo, da diversidade, de modo a sustentar posições fundamentalistas que, hegemônicas no âmbito das instituições públicas, naturalizam e despolitizam os problemas de integração social caudatários exatamente da centralidade das posições essencialistas e naturalizadas. No livro, conscientes das especificidades, mas também dos problemas, próprios a esse tipo de fundamentação, mormente quando em contraposição à universalidade dos direitos humanos, à centralidade do pluralismo-diversidade e ao caráter fundacional do Estado democrático de direito, construímos algumas proposições estruturantes desde as quais julgamos possível uma remodelação da estrutura institucional interna das religiões institucionalizadas e universalistas, do tipo de fundamentação essencialista e naturalizada que elas levam a efeito e, finalmente, da própria aplicação direta e indistinta desses valores em termos da sociedade civil, apontando para a necessidade de moderação e sensibilização normativas e, em última instância, para o abandono de certas áreas de fundamentação que estão irremediavelmente assumidas pelo pluralismo axiológico, pelo individualismo dos estilos de vida e pela secularização e racionalização culturais próprias à modernidade-modernização ocidental, de modo que essas mesmas religiões (a) teriam um foco mais específico em torno à própria espiritualidade e (b) se transformariam em baluartes da defesa e da promoção dos direitos humanos, do pluralismo-diversidade e do Estado democrático de direito, protegendo as minorias político-culturais dos processos de violência sistemática que elas, as religiões institucionalizadas e universalistas, outrora justificaram e impuseram, com as reformulações institucionais e epistêmicas consequentes a essa “reorientação” interna.