Letícia Maria Passos Corrêa
Em “Rousseau e o exercício do filosofar”, obra que o leitor tem em mãos, Letícia nos brinda com um duplo viés teórico quando deseja, a partir do panorama clássico da História das Ideias Pedagógicas, aqui representado pela perspectiva teórica de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778): a) chamar nossa atenção para os aspectos necessários, urgentes e intransferíveis da formação dos sujeitos, justo nesse tempo em que vivemos enviesamentos da formação e até mesmo desvios (e por que não dizermos de-formações culturais?) e b) restaurar perspectivas produtivas para o ensino de Filosofia e o exercício do filosofar, a partir do pensamento pedagógico de um autor da estirpe de Rousseau. Ao nos convidar, enquanto leitores, para enveredar com ela pelas vias da proposta de Rousseau para o filosofar, Letícia é muito hábil, deveras convincente porque defende a tese de que há, no constructo filosófico-pedagógico de Rousseau, elementos para o desenvolvimento de um pensar crítico e reflexivo. E vai além, elege categorias e elementos conceituais para comprovar sua tese: curiosidade (criatividade), criticidade, liberdade e afetividade são materiais que, retirados dos contextos do senso comum, são submetidos pela autora e professora de Filosofia ao crivo do exercício hermenêutico que desvela a obra pedagógica de Rousseau. Ao realizar e implementar a estratégia de revisitar um autor do século XVIII, já tão largamente estudado, por meio de um estratagema de interpretação que vai às profundezas de suas ideias, Letícia atualiza-nos a respeito do status da Filosofia como um conjunto de saberes e como uma disciplina criativa, como ela mesmo cita, rememorando Deleuze. Ao trazer Rousseau como um filósofo crítico, Letícia já nos prepara para o ambiente que vamos encontrar quando, a cada categoria anunciada e enunciada, dá-nos a oportunidade de re-conhecer Rousseau como propugnador de uma pedagogia curiosa, crítica, libertária e afetiva. Letícia é brilhante ao nos fazer concluir com ela a respeito do caráter interdisciplinar da Filosofia e a respeito do caráter sócio-histórico que impulsiona o pensar filosófico.
Neiva Afonso Oliveira e Avelino da Rosa Oliveira