TECNOLOGIA & SAÚDE Seminário Internacional Tecnologia & Saúde realizado pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito da PUCRS

A relação entre saúde e tecnologia é intrinsecamente dinâmica, com as tecnologias digitais e as ferramentas de Inteligência Artificial (IA) redefinindo o panorama da saúde digital. Positivamente, essas inovações prometem otimizar diagnósticos, personalizar tratamentos, aprimorar a gestão de dados e impulsionar a pesquisa e as políticas públicas. Algoritmos de IA, em particular, capacitam a análise de vastos volumes de informações para identificar padrões de doenças e otimizar a alocação de recursos, elevando a eficiência, a acurácia, a potencial qualidade dos serviços de saúde e a sustentabilidade dos sistemas de saúde publica, como o SUS, por exemplo. Entretanto, essa revolução tecnológica não está isenta de implicações adversas e de externalidades. O tratamento massivo de dados sensíveis na saúde, e.g., levanta preocupações críticas quanto à proteção à privacidade, à proteção de dados pessoais, ao livre desenvolvimento da personalidade e à autodeterminação informacional. Mais alarmante, o emprego de algoritmos de IA, se não concebido e monitorado sob rigorosos preceitos éticos e metodológicos, pode inadvertidamente perpetuar e até mesmo amplificar discriminações negativas e adensar as violações ao direito à igualdade. Em um contexto como o brasileiro, marcado por profundas desigualdades socioeconômicas, a exclusão digital assume um caráter de vulnerabilidade acentuada. A implementação de soluções de saúde digital baseadas em ferramentas de IA desprovidas de políticas de inclusão ativas e robustas pode exacerbar as disparidades. Algoritmos treinados com bases de dados enviesadas ou não representativas podem gerar diagnósticos imprecisos, indicar tratamentos inadequados ou, de forma mais grave, restringir o acesso aos serviços para grupos já marginalizados — seja por etnia, renda, localização ou outras variáveis sociodemográficas. Tal cenário configuraria uma explícita violação do direito fundamental à saúde, desvirtuando a promessa de universalização em uma nova forma de estratificação. A opacidade inerente à maioria dos sistemas de IA (“caixa preta”) e a assimetria informacional entre desenvolvedores, provedores de serviços e pacientes dificultam sobremaneira a identificação e a correção desses vieses. Torna-se imperativo, portanto, que o desenvolvimento e a regulamentação da saúde digital no Brasil incorporem uma perspectiva de justiça algorítmica e inclusão desde a concepção. Em vista disso, marcos regulatórios devem prever mecanismos como relatórios de impacto à proteção de dados e avaliações algorítmicas, a fim de promover a transparência, a explicabilidade, a interpretabilidade, a oponibilidade e a accountability dos sistemas de IA de sorte a incentivar o uso de padrões de dados abertos e interoperáveis, sem a concentração excessiva em bases únicas. Tais medidas são essenciais para mitigar os riscos de discriminação e assegurar que a tecnologia se configure como uma ferramenta voltada para a concretização da equidade e não de aprofundamento das desigualdades existentes, concretizando, assim, sua promessa de benefício universal. Nesse espírito, muito agrega a leitura dessa obra que, em síntese, busca compartilhar saberes que convergem para a efetivação da saúde no panorama de digitalização que atualmente se materializa.

Porto Alegre (POA), junho de 2025

Gabrielle Bezerra Sales Sarlet.

 

GABRIELLE BEZERRA SALES SARLET, INGO WOLFGANG SARLET, FERNANDA NUNES BARBOSA, EMMANUEL ROCHA REIS

GABRIELLE BEZERRA SALES SARLET – 0000-0003-3628-0852

INGO WOLFGANG SARLET – 0000-0002-2494-5805

FERNANDA NUNES BARBOSA – 0000-0002-6268-1396

EMMANUEL ROCHA REIS – 0000-0001-6753-3424

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Número de páginas: 212

ISBN: 978-65-5460-224-2

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